domingo, 10 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 23 de março de 2012
NELSON MANDELA
NELSON MANDELA
A LUTA CONTRA O APARTHEID
Em Cordel
“São os guerreiros ousados
Que com tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Homens simples, fortes, bravos,
Hoje míseros escravos
Sem lar, sem luz, sem razão.”
Castro Alves
Apartheid foi um sistema
Implantado com rigor
Por toda África do Sul
Pelo colonizador
Que invadiu o país
Africano e impingiu
A um povo o seu terror.
Apesar do comunismo
Primitivo ter caído,
Bem como, do escravismo
Há milênios ter surgido,
Só no século vinte, o mal
Dessa chaga oficial
Foi por lei instituído.
Mas, foi pelo século quinze
Que o branco apareceu
Trazendo todo egoísmo
Do continente europeu...
Chegou já como invasor
Com um tal navegador
De nome Bartolomeu. 01
Era o Bartolomeu Dias,
Navegador português
Que nos mares penetrando
Com tamanha intrepidez
Dobrou, por sua fiança,
O Cabo da Boa Esperança
Chegando ali de uma vez.
Logo nos anos seguintes
Se dariam as invasões,
Dos brancos e mercenários
Com seus fuzis e canhões...
Eram ingleses, franceses,
Alemães e Holandeses
Ocupando essas nações.
Em mil seiscentos e cinqüenta
E dois, os ocidentais
Conhecidos como bôeres,
Ou produtores rurais,
Vêm ao Cabo, com proeza,
Na Companhia Holandesa
Das Índias Orientais.
Do caminho à Indonésia
Era o Cabo sua escala,
Residia um povo livre
Sem corrente e sem senzala,
Mas, um dia aconteceu
Do invasor europeu
Inverter tudo na bala. 02
Porém, foi o holandês
Como invasor inclemente,
O primeiro a penetrar
Pelo sul do Continente
Africano e uma colônia
Implantar sem cerimônia
Aos direitos de uma gente.
Com o passar dos tempos
Puderam seus descendentes
Impingir as suas leis,
Seus costumes diferentes
E tornar os africanos,
Pelos seus atos insanos,
Totalmente dependentes.
Então essa dependência
Na prática foi se firmando,
Mesmo sendo maioria
Os africanos em bando
Reagia aos invasores
Mas, diante dos temores
Iam perdendo o comando.
Até que no século vinte
Em quarenta e oito, o ano,
É a lei do apartheid
Em Congresso tão insano
Aprovada ao dissabor,
Ao massacre e amargor
Do povo sul-africano.
Só havia até ali
A dita segregação,
Em africano, apartheid,
Que é a separação
Como regra entre raças,
Dos deveres dessas massas,
Dos direitos do patrão.
O que difere o aparteid
É que agora era lei,
Os brancos com seus poderes
Sendo cada igual a rei
Governava a minoria
Que impunha a tirania
Cruel sobre a frágil grei.
Que era a lei do Apartheid?
Era a lei que excluía
As pessoas africanas
Da mais simples garantia;
Dos que perdiam o direito
Naquilo que diz respeito
À política e economia.
As elites dominantes
Chegariam à conclusão:
Ou o curso da igualdade
Ou o da segregação,
Mas, o curso da igualdade
Para os brancos, na verdade,
Era um suicídio, então.
Pela África do Sul
Já por mil e novecentos
E dez, os ingleses vinham
Com seus atos truculentos
Impor ao povo, de vez,
O seu idioma inglês
Como língua em andamento.
Por esse tempo na África
Já não tinha o povo mais
O direito de votar,
Nem votado ser jamais,
Perdendo ainda, em alardes,
Direito a propriedades
Quer urbanas ou rurais.
Havia bairros de branco
Luxuosos, bem cuidados,
E ali somente eles
Caminhavam nos gramados
Proibidos, só por isso,
Negros iam a serviço
Assim mesmo autorizados.
Havia escolas pra brancos
E para negros também,
O ensino para estes
Não podia ir além
De formar a mão de obra
Só braçal mesmo com sobra
Na feitura de um bem.
O Apartheid definia
Por sua lei de opressor,
Negro, mestiço, indiano
Como sendo inferior,
Daí então segregava
Quase tudo que se usava
Entre os brancos e de cor.
Onde um branco residisse
Não podia ele morar,
Africana só podia
Com africano casar,
Era a escola separada
Com lição apropriada
Para a criança estudar.
Proibiu-se casamentos
Entre raças diferentes,
O uso de lotação
Quando de brancos somente,
Sentar em bancos de praça
Ou pensar unir a raça
Para ser independente.
Também, proibido estava
O direito de pensar,
De agir com consciência
Ou de livre se expressar.
De escrever sobre a lousa
Ou de fazer qualquer coisa
Que pudesse incomodar.
O direito de ir e vir
Que lhes era natural,
Daquela prática tão boa
Que vinha do ancestral
Foi com outros abolido
E que se fosse exercido
Seu autor se dava mal.
Qualquer ação que importasse
Em riqueza ou em poder
Eram negros proibidos
De qualquer coisa fazer...
Só havia a permissão
Que era a de, na missão,
Trabalhar e obedecer.
Alguns nativos que eram
De outra religião
Foram todos obrigados
A fazer a conversão
Para o cristianismo
Se livrando do abismo
De ser ateu ou pagão.
Naquele ano o Partido
Reunido Nacional,
Do nacionalismo africânder
Tido como o principal,
Com Daniel François
O poder veio a ganhar
Em uma eleição geral.
E um dos seus compromissos
Conservador, radical
Era aumentar com rigor
A segregação racial,
Fazer com disposição
A maior separação
Ante um povo desigual.
Dizia seu manifesto
Que da tal segregação
A doutrina se baseia
Pelo princípio cristão
Que reconhece a postura
Duma raça branca, pura,
Com total superação.
Cerca de trezentas leis
Foram todas aprovadas,
Todas as segregações
Para o Congresso enviadas,
Pra sua legalidade,
Tiveram unanimidade
E defesas orquestradas.
A proteção do apartheid
Externou-se com ciência
Ao reprimir com rigor
As ações de resistência
Através da agitação,
Panfletos, divulgação
De protesto em evidência.
Houve forte repressão
Ao Partido Comunista
E às organizações
De caráter pacifista
Que o poder considerasse
Como inimiga de classe
Por sua luta ativista.
E qualquer manifestante
Que fosse surpreendido
Pregando contra o regime
Deveria ser punido
Pelos seus atos em vista
Igualmente ao comunista
Que será morto ou banido.
Ante esse clima nefasto
De tanta arbitrariedade,
De massacre, humilhação,
De falta de liberdade,
Várias manifestações
Mesmo com tais repressões,
Vinham da sociedade.
Primeiro foi o Congresso
Nacional Africano
Que combatendo o apartheid
Desafiou o tirano
Ao contestar, realista,
De maneira pacifista
O seu ato desumano.
Desse feito, oito mil
E quinhentos militantes
Presos foram e castigados
Pelos seus atenuantes.
Repressão que se dizia
Pra por fim a anarquia
Que se fez ali reinante.
Albert Lutuli foi
O líder do movimento
De resistência pacífica
Que tinha como fomento
Fazer essa agitação
Para chamar a atenção
Do governo e parlamento.
Foram muitos os protestos,
Muitas as rebeliões,
Muitas mortes pelas ruas
Muitas dores nas prisões.
Porém, quanto mais sofria
Mas, o povo ressurgia
Dentro das insurreições.
O CNA já tinha
Quarenta anos de luta
Marcada por repressão
Durante cada disputa.
Sempre acabava, malgradas,
Com prisões abarrotadas
E a punição sempre bruta.
O maior desses protestos
E que ficou na história
Foi a tragédia, o massacre
De Sharpeville, sem glória,
Onde se matara à toa
Sessenta e nove pessoas,
Uma barbárie notória.
Um coronel da polícia
Procurou justificar:
“Cercaram a delegacia,
Procuraram intimidar...
Se tornam a coisa incrível
A lição mesmo é difícil,
Mas que precisam tomar.
O líder Nelson Mandela
De pronto se rebelou
Chegando a reconhecer
Que o pacifismo falhou;
Que agora a sabotagem
Era a única roupagem
Ante a fúria do opressor.
Foi criado um movimento
O “Lanceiro da Nação”,
Uma ala militar
Do CNA em ação
Onde áreas do poder
Passariam a conhecer
Dos negros, a reação.
E quem foi Nelson Mandela?
Foi um grande lutador.
Foi o brado do excluído,
O arauto que botou
Uma pedra no caminho
Pra deixar em desalinho
Os passos do opressor.
Nasceu em dezoito de julho
Lá por mil e novecentos
E dezoito quando a África
Era toda sofrimento,
Após Castro Alves em “Vozes”
Denunciar seus algozes
Com seus atos de tormento.
Era o Nelson Mandela
Arauto da liberdade,
Compromisso duma luta
Em favor da humanidade,
Para isso foi guerreiro
E depois um guerrilheiro
Vendo a realidade.
Sonhava com a liberdade
Para o povo e o país.
Como um Ghandi, pacifista,
Acreditava feliz
Que o branco estancaria
Para a imensa maioria
Com sua força motriz.
O Massacre de Sharpeville
Com sessenta e nove mortes,
Cento e oitenta feridos
E milhares sem coortes,
Levaram Nelson Mandela
A buscar a passarela
Realista, com mais sorte.
Estudante de direito
Comprou do povo essa briga,
Participa, então, da Carta
Da Liberdade e da Liga,
E em frente quando sai
É sempre contra o Apartheid
Sem receio e sem fadiga.
Pelas suas posições,
Sua luta, a liberdade,
O poder o expulsou
Daquela universidade,
Já tem o governo em vista
Como sendo um terrorista
Com histórias de igualdade.
Foi a vida de Mandela
Cheia de atribuições,
Educando revoltosos,
Promovendo insurreições,
Porém, sempre com prudência
Pregando a não-violência,
Sem fuzis e sem canhões.
Pregou a não-violência
Como Ghandi, passo a passo,
Até o dia histórico
Que foi vinte e um de março,
De sessenta e um, então,
Quando tombados ao chão
Seus irmãos viu por balaço.
Chamada de sabotagem
Sua estratégia de paz,
Ele achando que falhara
E também ineficaz,
Mudou para a luta armada
Com arma nova e pesada,
Nos combates, mais capaz.
Para apoiar essa luta
Funda o Lança da Nação,
Torna-se um braço armado,
Comandante em operação,
E convoca a combater
Pra tomada do poder
Por uma revolução.
Ele esteve na Argélia
Em treinos para a guerrilha
Ele e outros companheiros
Que seguiam a mesma trilha.
Preparavam-se pra guerra
Na prática e no que descerra
Nas lições duma cartilha.
Tudo que ele aprendeu
Pela universidade,
Procurava repassar
Com sua simplicidade.
Eram os ensinamentos,
Valores, conhecimentos
Do mundo, a realidade.
Tentando o povo acordar
Do pesadelo profundo,
Nelson Mandela apontava
Em detalhes, indo a fundo,
Como se fosse um alarma,
“A educação como arma
Para mudança do mundo”.
Transcorria, assim, a luta
Entre tiros e lição,
O antigo alienado
Era agora um cidadão
Que pegando consciente
O fuzil seguia em frente
Tocando a revolução.
Após grande atuação
Quase sempre de vitória,
Com um ano de guerrilha
Combatendo tal escória
Em sessenta e dois, malgrado,
Mandela é capturado
Mas, já dentro da história.
Dali mesmo da prisão
Constata sua liderança,
As ordens de prosseguirem
Na luta com segurança,
Ao ser feitas, transmitia
Mais fiança e energia,
Mais força, mais esperança.
Diante de um tribunal
Tão suspeito e tão corrupto
Veio a ser Nelson Mandela
Condenado a um tributo
De cinco anos de pena
Naquela nefasta arena,
Naquele presídio bruto.
Cinco anos de prisão
Por haver Nelson Mandela
Participado de greves
Radicais e sem cautela,
E sem autorização
Para viagens, então,
Junto a sua parentela.
Mesmo ante a reação
Do povo e dos guerrilheiros
Resolveu o tribunal
Fazer com seus escudeiros
Outro júri em nova régua
Levando à prisão perpétua
Como querem seus pilheiros.
Discutiram esses juízes
Durante o seu julgamento
Na condenação possível
Até de enforcamento,
Mas o medo eventual
Da reação mundial
Demoveram desse intento.
Mas, Mandela na prisão
Se torna mais perigoso,
Por conta disso oferecem
Num disfarce generoso
Tirar da pena uma parte
Caso parem seu combate
Que já era poderoso.
O poder desmoronava
E por isso o opressor
Libertar quis o Mandela,
Porém, condicionou:
Não incentivar em nada
Mais aquela luta armada
No que ele não aceitou.
Da prisão Nelson Mandela
Mandava suas mensagens:
Unam-se, Mobilizem-se,
Lutem em todas paragens.
Entre a bigorna e o martelo
Esmaguemos todo o elo
Do Apartheid, as imagens.
O povo sul-africano
Observava na tela
O clamor de todo mundo
Que diante da esparrela
De um governo tirano
Externasse o verbo humano:
“Libertem Nelson Mandela”.
Até que no dia onze
De fevereiro de mil,
Novecentos e noventa,
Rompendo com o covil,
O poder é transformado
E Mandela libertado
Com seu direito civil.
Frederik Willem de Klerk
Levado pela pressão,
E estando no poder
Como alguém de transição
Que abria uma cancela,
Anunciou de Mandela
A sua libertação.
Já com vinte e sete anos
Como um presidiário
É Mandela libertado
Sendo já septenário,
Com menos tempo a correr
No que faz leva o prazer
Do revolucionário.
Quando Mandela foi posto
De uma vez em liberdade
Tinha ele já em vida
Setenta e dois de idade,
Mesmo assim não se deteve
A vontade e o tempo teve
De voltar-se à humanidade.
Ele foi no seu país
Já tornado independente
Com a garra e os ideais
Que carregou pela frente,
Por processo eleitoral
Democrático e real,
O primeiro presidente.
O povo sul-africano
Em primeira vez votou,
Pois, antes somente o branco
Podia ser eleitor,
Agora o povo maduro
Foi às urnas e o futuro
No seu nome consagrou.
Aclamado nos países,
Amado pelo seu povo
Recebeu Nelson Mandela
No velho mundo e no novo
As mais várias saudações
E comendas das nações
Pra compensar todo estorvo.
Recebeu dos leninistas
O Prêmio Lenin da Paz,
E também o Prêmio Nobel
Da Paz que foi dado a mais
Frederik, o presidente
Que o libertou, evidente,
Bem a pouco tempo atrás.
Escreveu Nelson Mandela,
Quase sempre na prisão,
“A LUTA DA MINHA VIDA”,
”VENCER É POSSÍVEL” e então,
“CONVERSAS QUE TIVE COMIGO”
Além de poesia e artigo
Sobre a revolução.
Nelson Mandela tem hoje
Noventa e três de idade,
Tem nos direitos humanos
Uma intensa atividade,
Também põe sua atenção
Sobre a organização
De toda sociedade.
Eis, então mais um cordel
De um titã da humanidade
Que provocou o verdugo
Sem temer sua atrocidade;
Que deixou melhor labuta
Para dedicar-se à luta
Das causas da Liberdade.