sexta-feira, 23 de março de 2012

NELSON MANDELA

NELSON MANDELA

A LUTA CONTRA O APARTHEID

Em Cordel

“São os guerreiros ousados

Que com tigres mosqueados

Combatem na solidão.

Homens simples, fortes, bravos,

Hoje míseros escravos

Sem lar, sem luz, sem razão.”

Castro Alves

Apartheid foi um sistema

Implantado com rigor

Por toda África do Sul

Pelo colonizador

Que invadiu o país

Africano e impingiu

A um povo o seu terror.

Apesar do comunismo

Primitivo ter caído,

Bem como, do escravismo

Há milênios ter surgido,

Só no século vinte, o mal

Dessa chaga oficial

Foi por lei instituído.

Mas, foi pelo século quinze
Que o branco apareceu

Trazendo todo egoísmo

Do continente europeu...

Chegou já como invasor

Com um tal navegador

De nome Bartolomeu. 01

Era o Bartolomeu Dias,
Navegador português

Que nos mares penetrando

Com tamanha intrepidez

Dobrou, por sua fiança,

O Cabo da Boa Esperança

Chegando ali de uma vez.

Logo nos anos seguintes

Se dariam as invasões,

Dos brancos e mercenários

Com seus fuzis e canhões...

Eram ingleses, franceses,

Alemães e Holandeses

Ocupando essas nações.

Em mil seiscentos e cinqüenta

E dois, os ocidentais

Conhecidos como bôeres,

Ou produtores rurais,

Vêm ao Cabo, com proeza,

Na Companhia Holandesa

Das Índias Orientais.

Do caminho à Indonésia

Era o Cabo sua escala,

Residia um povo livre

Sem corrente e sem senzala,

Mas, um dia aconteceu

Do invasor europeu

Inverter tudo na bala. 02

Porém, foi o holandês

Como invasor inclemente,

O primeiro a penetrar

Pelo sul do Continente

Africano e uma colônia

Implantar sem cerimônia

Aos direitos de uma gente.

Com o passar dos tempos

Puderam seus descendentes

Impingir as suas leis,

Seus costumes diferentes

E tornar os africanos,

Pelos seus atos insanos,

Totalmente dependentes.

Então essa dependência

Na prática foi se firmando,

Mesmo sendo maioria

Os africanos em bando

Reagia aos invasores

Mas, diante dos temores

Iam perdendo o comando.

Até que no século vinte

Em quarenta e oito, o ano,

É a lei do apartheid

Em Congresso tão insano

Aprovada ao dissabor,

Ao massacre e amargor

Do povo sul-africano.

Só havia até ali

A dita segregação,

Em africano, apartheid,

Que é a separação

Como regra entre raças,

Dos deveres dessas massas,

Dos direitos do patrão.

O que difere o aparteid

É que agora era lei,

Os brancos com seus poderes

Sendo cada igual a rei

Governava a minoria

Que impunha a tirania

Cruel sobre a frágil grei.

Que era a lei do Apartheid?

Era a lei que excluía

As pessoas africanas

Da mais simples garantia;

Dos que perdiam o direito

Naquilo que diz respeito

À política e economia.

As elites dominantes

Chegariam à conclusão:

Ou o curso da igualdade

Ou o da segregação,

Mas, o curso da igualdade

Para os brancos, na verdade,

Era um suicídio, então.

Pela África do Sul

Já por mil e novecentos

E dez, os ingleses vinham

Com seus atos truculentos

Impor ao povo, de vez,

O seu idioma inglês

Como língua em andamento.

Por esse tempo na África

Já não tinha o povo mais

O direito de votar,

Nem votado ser jamais,

Perdendo ainda, em alardes,

Direito a propriedades

Quer urbanas ou rurais.

Havia bairros de branco

Luxuosos, bem cuidados,

E ali somente eles

Caminhavam nos gramados

Proibidos, só por isso,

Negros iam a serviço

Assim mesmo autorizados.

Havia escolas pra brancos

E para negros também,

O ensino para estes

Não podia ir além

De formar a mão de obra

Só braçal mesmo com sobra

Na feitura de um bem.

O Apartheid definia

Por sua lei de opressor,

Negro, mestiço, indiano

Como sendo inferior,

Daí então segregava

Quase tudo que se usava

Entre os brancos e de cor.

Onde um branco residisse

Não podia ele morar,

Africana só podia

Com africano casar,

Era a escola separada

Com lição apropriada

Para a criança estudar.

Proibiu-se casamentos

Entre raças diferentes,

O uso de lotação

Quando de brancos somente,

Sentar em bancos de praça

Ou pensar unir a raça

Para ser independente.

Também, proibido estava

O direito de pensar,

De agir com consciência

Ou de livre se expressar.

De escrever sobre a lousa

Ou de fazer qualquer coisa

Que pudesse incomodar.

O direito de ir e vir

Que lhes era natural,

Daquela prática tão boa

Que vinha do ancestral

Foi com outros abolido

E que se fosse exercido

Seu autor se dava mal.

Qualquer ação que importasse

Em riqueza ou em poder

Eram negros proibidos

De qualquer coisa fazer...

Só havia a permissão

Que era a de, na missão,

Trabalhar e obedecer.

Alguns nativos que eram

De outra religião

Foram todos obrigados

A fazer a conversão

Para o cristianismo

Se livrando do abismo

De ser ateu ou pagão.

Naquele ano o Partido

Reunido Nacional,

Do nacionalismo africânder

Tido como o principal,

Com Daniel François

O poder veio a ganhar

Em uma eleição geral.

E um dos seus compromissos

Conservador, radical

Era aumentar com rigor

A segregação racial,

Fazer com disposição

A maior separação

Ante um povo desigual.

Dizia seu manifesto

Que da tal segregação

A doutrina se baseia

Pelo princípio cristão

Que reconhece a postura

Duma raça branca, pura,

Com total superação.

Cerca de trezentas leis

Foram todas aprovadas,

Todas as segregações

Para o Congresso enviadas,

Pra sua legalidade,

Tiveram unanimidade

E defesas orquestradas.

A proteção do apartheid

Externou-se com ciência

Ao reprimir com rigor

As ações de resistência

Através da agitação,

Panfletos, divulgação

De protesto em evidência.

Houve forte repressão

Ao Partido Comunista

E às organizações

De caráter pacifista

Que o poder considerasse

Como inimiga de classe

Por sua luta ativista.

E qualquer manifestante

Que fosse surpreendido

Pregando contra o regime

Deveria ser punido

Pelos seus atos em vista

Igualmente ao comunista

Que será morto ou banido.

Ante esse clima nefasto

De tanta arbitrariedade,

De massacre, humilhação,

De falta de liberdade,

Várias manifestações

Mesmo com tais repressões,

Vinham da sociedade.

Primeiro foi o Congresso

Nacional Africano

Que combatendo o apartheid

Desafiou o tirano

Ao contestar, realista,

De maneira pacifista

O seu ato desumano.

Desse feito, oito mil

E quinhentos militantes

Presos foram e castigados

Pelos seus atenuantes.

Repressão que se dizia

Pra por fim a anarquia

Que se fez ali reinante.

Albert Lutuli foi

O líder do movimento

De resistência pacífica

Que tinha como fomento

Fazer essa agitação

Para chamar a atenção

Do governo e parlamento.

Foram muitos os protestos,

Muitas as rebeliões,

Muitas mortes pelas ruas

Muitas dores nas prisões.

Porém, quanto mais sofria

Mas, o povo ressurgia

Dentro das insurreições.

O CNA já tinha

Quarenta anos de luta

Marcada por repressão

Durante cada disputa.

Sempre acabava, malgradas,

Com prisões abarrotadas

E a punição sempre bruta.

O maior desses protestos

E que ficou na história

Foi a tragédia, o massacre

De Sharpeville, sem glória,

Onde se matara à toa

Sessenta e nove pessoas,

Uma barbárie notória.

Um coronel da polícia

Procurou justificar:
“Cercaram a delegacia,

Procuraram intimidar...

Se tornam a coisa incrível

A lição mesmo é difícil,

Mas que precisam tomar.

O líder Nelson Mandela

De pronto se rebelou

Chegando a reconhecer

Que o pacifismo falhou;

Que agora a sabotagem

Era a única roupagem

Ante a fúria do opressor.

Foi criado um movimento

O “Lanceiro da Nação”,

Uma ala militar

Do CNA em ação

Onde áreas do poder

Passariam a conhecer

Dos negros, a reação.

E quem foi Nelson Mandela?

Foi um grande lutador.

Foi o brado do excluído,

O arauto que botou

Uma pedra no caminho

Pra deixar em desalinho

Os passos do opressor.

Nasceu em dezoito de julho

Lá por mil e novecentos

E dezoito quando a África

Era toda sofrimento,

Após Castro Alves em “Vozes”

Denunciar seus algozes

Com seus atos de tormento.

Era o Nelson Mandela

Arauto da liberdade,

Compromisso duma luta

Em favor da humanidade,

Para isso foi guerreiro

E depois um guerrilheiro

Vendo a realidade.

Sonhava com a liberdade

Para o povo e o país.

Como um Ghandi, pacifista,

Acreditava feliz

Que o branco estancaria

Para a imensa maioria

Com sua força motriz.

O Massacre de Sharpeville

Com sessenta e nove mortes,

Cento e oitenta feridos

E milhares sem coortes,

Levaram Nelson Mandela

A buscar a passarela

Realista, com mais sorte.

Estudante de direito

Comprou do povo essa briga,

Participa, então, da Carta

Da Liberdade e da Liga,

E em frente quando sai

É sempre contra o Apartheid

Sem receio e sem fadiga.

Pelas suas posições,

Sua luta, a liberdade,

O poder o expulsou

Daquela universidade,

Já tem o governo em vista

Como sendo um terrorista

Com histórias de igualdade.

Foi a vida de Mandela

Cheia de atribuições,

Educando revoltosos,

Promovendo insurreições,

Porém, sempre com prudência

Pregando a não-violência,

Sem fuzis e sem canhões.

Pregou a não-violência

Como Ghandi, passo a passo,

Até o dia histórico

Que foi vinte e um de março,

De sessenta e um, então,

Quando tombados ao chão

Seus irmãos viu por balaço.

Chamada de sabotagem

Sua estratégia de paz,

Ele achando que falhara

E também ineficaz,

Mudou para a luta armada

Com arma nova e pesada,

Nos combates, mais capaz.

Para apoiar essa luta

Funda o Lança da Nação,

Torna-se um braço armado,

Comandante em operação,

E convoca a combater

Pra tomada do poder

Por uma revolução.

Ele esteve na Argélia

Em treinos para a guerrilha

Ele e outros companheiros

Que seguiam a mesma trilha.

Preparavam-se pra guerra

Na prática e no que descerra

Nas lições duma cartilha.

Tudo que ele aprendeu

Pela universidade,

Procurava repassar

Com sua simplicidade.

Eram os ensinamentos,

Valores, conhecimentos

Do mundo, a realidade.

Tentando o povo acordar

Do pesadelo profundo,

Nelson Mandela apontava

Em detalhes, indo a fundo,

Como se fosse um alarma,

“A educação como arma

Para mudança do mundo”.

Transcorria, assim, a luta

Entre tiros e lição,

O antigo alienado

Era agora um cidadão

Que pegando consciente

O fuzil seguia em frente

Tocando a revolução.

Após grande atuação

Quase sempre de vitória,

Com um ano de guerrilha

Combatendo tal escória

Em sessenta e dois, malgrado,

Mandela é capturado

Mas, já dentro da história.

Dali mesmo da prisão

Constata sua liderança,

As ordens de prosseguirem

Na luta com segurança,

Ao ser feitas, transmitia

Mais fiança e energia,

Mais força, mais esperança.

Diante de um tribunal

Tão suspeito e tão corrupto

Veio a ser Nelson Mandela

Condenado a um tributo

De cinco anos de pena

Naquela nefasta arena,

Naquele presídio bruto.

Cinco anos de prisão

Por haver Nelson Mandela

Participado de greves

Radicais e sem cautela,

E sem autorização

Para viagens, então,

Junto a sua parentela.

Mesmo ante a reação

Do povo e dos guerrilheiros

Resolveu o tribunal

Fazer com seus escudeiros

Outro júri em nova régua

Levando à prisão perpétua

Como querem seus pilheiros.

Discutiram esses juízes

Durante o seu julgamento

Na condenação possível

Até de enforcamento,

Mas o medo eventual

Da reação mundial

Demoveram desse intento.

Mas, Mandela na prisão

Se torna mais perigoso,

Por conta disso oferecem

Num disfarce generoso

Tirar da pena uma parte

Caso parem seu combate

Que já era poderoso.

O poder desmoronava

E por isso o opressor

Libertar quis o Mandela,

Porém, condicionou:

Não incentivar em nada

Mais aquela luta armada

No que ele não aceitou.

Da prisão Nelson Mandela

Mandava suas mensagens:

Unam-se, Mobilizem-se,

Lutem em todas paragens.

Entre a bigorna e o martelo

Esmaguemos todo o elo

Do Apartheid, as imagens.

O povo sul-africano

Observava na tela

O clamor de todo mundo

Que diante da esparrela

De um governo tirano

Externasse o verbo humano:

“Libertem Nelson Mandela”.

Até que no dia onze

De fevereiro de mil,

Novecentos e noventa,

Rompendo com o covil,

O poder é transformado

E Mandela libertado

Com seu direito civil.

Frederik Willem de Klerk

Levado pela pressão,

E estando no poder

Como alguém de transição

Que abria uma cancela,

Anunciou de Mandela

A sua libertação.

Já com vinte e sete anos

Como um presidiário

É Mandela libertado

Sendo já septenário,

Com menos tempo a correr

No que faz leva o prazer

Do revolucionário.

Quando Mandela foi posto

De uma vez em liberdade

Tinha ele já em vida

Setenta e dois de idade,

Mesmo assim não se deteve

A vontade e o tempo teve

De voltar-se à humanidade.

Ele foi no seu país

Já tornado independente

Com a garra e os ideais

Que carregou pela frente,

Por processo eleitoral

Democrático e real,

O primeiro presidente.

O povo sul-africano

Em primeira vez votou,

Pois, antes somente o branco

Podia ser eleitor,

Agora o povo maduro

Foi às urnas e o futuro

No seu nome consagrou.

Aclamado nos países,

Amado pelo seu povo

Recebeu Nelson Mandela

No velho mundo e no novo

As mais várias saudações

E comendas das nações

Pra compensar todo estorvo.

Recebeu dos leninistas

O Prêmio Lenin da Paz,

E também o Prêmio Nobel

Da Paz que foi dado a mais

Frederik, o presidente

Que o libertou, evidente,

Bem a pouco tempo atrás.

Escreveu Nelson Mandela,

Quase sempre na prisão,

“A LUTA DA MINHA VIDA”,

”VENCER É POSSÍVEL” e então,

CONVERSAS QUE TIVE COMIGO”

Além de poesia e artigo

Sobre a revolução.

Nelson Mandela tem hoje

Noventa e três de idade,

Tem nos direitos humanos

Uma intensa atividade,

Também põe sua atenção

Sobre a organização

De toda sociedade.

Eis, então mais um cordel

De um titã da humanidade

Que provocou o verdugo

Sem temer sua atrocidade;

Que deixou melhor labuta

Para dedicar-se à luta

Das causas da Liberdade.